O
romancista Novala Takemoto tem como animal de estimação um cervo
empalhado em seu apartamento decorado de maneira pouco usual em Tokyo.
"Isso
não quer dizer que eu queria me tornar uma garota. Simplesmente, eu não
estava interessado em coisas para garotos. Eu gostava de coisas
femininas. Coisas masculinas são suadas, então eu não gostava delas."
NOVALA TAKEMOTO, escritor.
Por fora, parece um prédio de
apartamentos comum de Tokyo. Mas se você encontrar a porta certa, e se
você for convidado a entrar, você imediatamente se encontrará num País
das Maravilhas excêntrico e estranho.
O perfume Christian Dior faz
cócegas no nariz e Bach nos ouvidos. O cervo empalhado faz com que se
sintam em casa com seus amigos: uma boneca loira num vestido de tafetá,
Doraemon, um relógio da Hello Kitty e um aparentemente desconfortável
incontável número de outros objetos, alguns mundanos, alguns
surpreendentes.
Essa é a visão numa sala de 15 esteiras tatami
(Nota: aqui não sei se haviam 15 tatamis ou se é uma unidade de medida ^^"). Bem vindo ao mundo do romancista Novala Takemoto.
É
entre essas paredes - essa fantasia - que aqueles romances "Lolita"
ultra-femininos nascem. De fato, o próprio escritor é um herói entre a
multidão lolita, garotas e mulheres que têm predileção por rendas e
bonnets e laços e babados.
Takemoto tem maçãs do rosto altas e cabelo selvagem. Ele poderia ser uma cara de boa aparência ou uma bela mulher
(Nota: EU RI MUITO XD Desculpem, não resisti ao comentário ^^").
Quando pedimos que ele descrevesse a si mesmo, ele diz: "Bom, eu sou
homem e heterossexual. Quando um homem heterossexual é assim (totalmente
apaixonado por objetos femininos), geralmente dizem que é por inflência
de uma irmã mais velha. Mas eu não tenho uma irmã mais velha. Ninguém
me influenciou. Imagino que eu seja uma mutação."
Vestido em um traje
que é uma mistura de Vivienne Westwood e Comme des Garcons, ele serve
chá gelado em copos de Alice no País das Maravilhas, colocando as
bebidas em descansos de copo com estampa de morangos.
Takemono, que
não irá revelar sua idade - um plano para manter sua aura misteriosa
intacta - entrou para a multidão literária com seu primeiro romance
"Mishin" em 2000. É a fábula de uma linda lolita que é vocalista de uma
banda punk, Mishin, e a colegial que a adora.
Embora Takemoto tenha
sido indicado para o Prêmio Literário Yukio Mishima por "Emily" e
"Lolita" em 2003 e 2004 respectivamente, foi "Shimotsuma Monogatari" que
fez dele uma celebridade. Um filme baseado no livro foi uma grande
febre no Japão este ano (Nota: esse artigo é de 2004). Está marcado para
ser lançado como "Kamikaze Girls" em sete países incluindo Estados
Unidos, Itália e Espanha.
COnhecido como um romancista com a alma de
uma donzela, Takemoto diz que o senso de beleza Lolita é o mais
importante aspecto de sua escrita e sua vida. No Japão a palavra
"Lolita" conjura uma imagem de garotas enfeitadas com trajes
estrangeiros de babados, mas ele diz que é tanto uma maneira de viver
como uma afirmação de moda.
"Lolita é uma forma de esteticismo. Eu
acho que lolita é uma condição na qual dois elementos conflitantes
coexistem sem contradição, por exemplo, alguma coisa tanto grotesca como
fofa", ele diz. "Uma lolita ama Alice no País das Maravilhas por causa
da situação caótica no País das Maravilhas, é muito característico".
Essa
estética lolita é especialmente notada em "Shimotsuma Monogatari", que
conta a história de uma amizade diferente entre duas garotas colegiais
vivendo na rústica Shimotsuma, na prefeitura de Ibaraki. Momoko é uma
lolita que sonha em viver num magnífico reino que lembre a França na
época do Rococó. Ichigo é uma motociclista punk.
A princípio, as
garotas parecem não ter nada em comum, mas fica claro que ambas são
personagens com força de vontade que não tem medo de ser verdadeitas com
suas crenças a depeito do que os outros pensam.
Solitários similares
com seus próprios conjuntos de valores aparecem com freqüência nos
trabalhos de Takemoto. Ele diz que tais personagens são seu outro eu.
Nascido
em Kyoto, ele foi criado numa família de classe média normal.
Introvertido como um garoto, ele passava seu tempo desenhando e lendo.
Um dia ele viu "Candy Candy", um desenho popular da TV baseado numa
história em quadrinhos para garotas. Takemoto ficou encantado com a
fábula sentimental de uma inocente garota órfã adotada por uma famíia
aristocrata.
"Eu não estava interessado em coisas de garotos como
fazer modelos de plástico ou esportes, então em me sentia meio fora de
lugar", diz Takemoto. "Depois de ver 'Candy', de qualquer forma, eu
finalmente fiquei feliz por ter encontrado o que eu gostava".
Enquanto
seus pais desesperadamente tentaram fazer com que ele se interessasse
em brinquedos de garotos, Takemoto importunava-os por bonecas e produtos
Candy.
"Isso não quer dizer que eu queria me tornar uma garota.
Simplesmente, eu não estava interessado em coisas para garotos. Eu
gostava de coisas femininas. Coisas masculinas são suadas, então eu não
gostava delas."
Previsivelmente, um colega de classe o provocou, chamando-o de "bicha". Isso não importava. Ele diz que não se importava.
Durante
sua adolescência ele teve pouca vida social, preferindo dedicar seu
tempo a desenhar e ler literatura japonesa, incluindo autores como Osamu
Dazai e Yasunari Kawabata.
Depois que ele deixou de freqüentar a
Universidade de Artes de Osaka, Takemoto expressou-se através de várias
mídias. Como um artista, ele apoiou uma exibição solo de retratos de
moda. Ele seguiu isso com instalações. Coelhos e anjos eram os temas
favoritos pintados em relógios e grandes pinturas em tambores de óleo.
Foi
por volta desse período que ele decidiu usar "Novala Takemoto" como seu
nome de escritor. "Eu queria que garotas apreciassem minha arte como se
elas estivessem comprando suas roupas favoritas", ele diz. "Para
agradá-las, eu decidi usar um nome assexuado, "Novala", que tem duplo
significado - rosa selvagem em japonês e estrela nova em inglês."
Takemoto
começou a escrever como freelancer para revistas para se sustentar
enquanto cantava em uma banda punk e atuava numa trupe teatral.
"Mesmo assim, meu interesse primário eram as artes, então eu considerei escrever como apenas uma trabalho de meio período."
O
ponto decisivo veio quando ele recebeu uma oferta para escrever uma
série de ensaios para um panfleto mensal com base em Osaka, "Hanagata
Bunka Tsushin", que era distribuído em casas de arte, teatros, galerias e
cafes ao redor do país.
No ensaio Takemoto discute sua filosofia, seus gostos e desgostos e seu senso de beleza lolita pela primeira vez.
"Quando
eu fui convidado para escrever o ensaio eu decidi fazê-lo, as eu pensei
que provocaria muitos leitores e seria cancelado após alguns números.
Devido a experiências passadas, eu senti que se eu dissesse o que eu
realmente sentia eu não seria aceito", ele diz.
Em um ensaio, ele
escreve: "Donzela é aquela que permanecesse indiferente. Então é bobagem
se você está desesperado para se tornar amigo de alguém que
simplesmente evita ficar sozinho durante a hora de almoço."
Ao contrário de suas expectativas iniciais, os ensaios agradaram a muitos leitores jovens.
"Foi
bastante surpreendente para mim. Eu não percebi que haviam pessoas que
compartilhavam dos meus pensamentos e senso de beleza".
Uma
compilação de sua série de ensaios, que continuou por seis anos, de 1992
a 1992, entitulada: "Soreinu: Tadashii Otome ni Narutameni" (Soreinu:
tornar-se propriamente uma donzela), foi publicado em 1998, dois anos
antes de "Mishin".
Agora, Takemoto considera escrever como seu
principal objetivo de auto-expressão. Seu último livro, "Mishin 2:
Kasako" é a muito aguardada continuação de seu primeiro romance.
Em
um domingo recente, cerca de 300 fãs apareceram para conseguir o
autógrafo de seu ídolo em uma livraria no shopping PARCO em Shibuya,
Tokyo, em um evento para marcar o lançamento do livro.
Muitos fãs, a
maioria garotas adolescentes em mulher entre 20 e 30 anos, estavam
vestidas no estilo lolita como as personagens de seus livros.
"Eu me
sinto um pouco envergonhada de usar um vestido como este na minha idade.
Mas eu fui encourajada por seu livro. Eu percebi que está tudo bem
agarrar-se ao que eu gosto", diz uma Fusako Hirano, funcionária de
escritório de 32 anos da prefeitura de Ibaraki.
Finalizando com um
vestido de verão da MILK com um chapéu de palha, entregou um enorme ramo
de flores, hálito jovem para Takemoto.
Na tranqüilidade de seu
apartamento, rodeado por seus tesouros, Takemoto diz: "Nós somos uma
minoria nessa sociedade, mas eu quero dizer aos meus leitores para
viverem uma vida baseada em seus próprios juízos de valores. Meus
ensaios são como cartas de amor para eles. Agora eu escrevo romances,
mas minha mensagem não mudou".
(IHT/Asahi: Jullho 24,2004) (07/24)
♥
Créditos:
Artigo em inglês: Lolita Handbook
Tradução: Ichigo